Qual a representatividade do resultado obtido com a moldagem de apenas dois corpos-de-prova de 10x20 cm, cerca de três litros de concreto, para caracterizar um carregamento ou betonada com oito ou nove metros cúbicos? A moldagem foi no começo, meio ou fim do carregamento? A amostra coletada continha mais ou menos argamassa? Tem-se que acreditar muito no controle. O laboratório por sua vez tem que ser perfeito, lembrando que é operado por seres humanos.
As reflexões sobre o controle tecnológico passam por diferentes pontos de vista. Há os que não fazem controle, não moldam corpos de prova e dormem tranquilos. Há os que se contentam com o controle de produção, geralmente corpos de prova moldados pelos motoristas dos caminhões betoneiras. Felizmente, há os que, atendendo recomendações da norma NBR 12655/96, moldam de todos os caminhões. Este usuário é menos tranquilo que o outro, porque eventualmente pode receber um resultado baixo, em desacordo com o pedido. Aí entram as análises e a intranquilidade. Começa pela suposição de que pode ser erro do laboratório, raramente, mas pode ser erro da central de concreto e, mais raramente ainda, um erro na qualidade do cimento, além de outros. Para o concreto elaborado na obra a quantidade de erro aumenta. Imaginem a variação causada por um traço que ora é elaborado com areia seca e ora com areia úmida. O resultado pode variar em até 100%.
Em um primeiro momento diz-se que o erro é do laboratório. Quando o controle é do consumidor, geralmente ele começa culpando o cimento. A análise é desgastante para as partes envolvidas, ninguém quer ser o responsável pela baixa resistência. A discussão geralmente começa a ter significado após uma primeira bateria de ensaios. Os primeiros são os de esclerometria. Não é um resultado definitivo e seus valores não servem para um recálculo da estrutura. Pode-se dizer que a esclerometria tem uma variação nos resultados de mais ou menos 20% em relação ao valor real. Os fatores que podem influenciar no resultado é uma maior ou menor concentração de brita; diferentes intensidades de vibração; qualidade da pele do concreto evidenciada pelo uso de formas metálicas, formas plastificadas ou tábuas absorventes. Identificados os pontos de dúvidas na estrutura pode-se partir para uma extração de corpos-de-prova. É o resultado mais confiável para análise. Lembrando também que não é infalível. A condição ideal para se fazer uma análise estrutural é que haja resultados. Quanto menor a amostragem maior os coeficientes de insegurança. Para exemplificar, numa amostragem de 2 exemplares (duas séries), o coeficiente para se estimar o fck, valor que deve ser multiplicado ao menor valor das séries moldadas, é de 0,75. Para mais de 14 exemplares, o coeficiente passa a ser de 1,0, ou seja, o fck estimado é o menor valor das séries moldadas, tomando sempre o maior valor do par. O usuário do concreto, engenheiro de obra, deve ter sempre à mão a norma NBR12655/96 Concreto de cimento Portland – Preparo, controle e recebimento – Procedimento.
A análise de resultados geralmente é feita com resultados aos 28 dias. Apesar de concret ter sete letras, a evolução da resistência do concreto desconhece a magia do número sete. Cada tipo de cimento apresenta uma curva de crescimento. Cimentos mais puros como o CP I e o CP V apresentam crescimentos maiores de resistências nas primeiras idades. O CP III e CP IV, respectivamente com adições de escórias de alto forno e pozolanas, são mais lentos. Em uma análise de resultados raramente o resultado aos 3 dias é considerado. Porque então moldar séries de 6 corpos de prova? Em uma concretagem normal, pode-se moldar algumas séries para rompimento aos 7 e 28 dias e a maioria das séries com apenas 2 corpos de prova para 28 dias. O resultado aos 3 dias ou aos 7 dias indica apenas uma referência de qualidade do que foi aplicado durante aquele período. Não se pode negar que o maior número de resultados trás mais segurança na análise. A série de 3 ou 4 resultados, para uma indicação, pode ser de apenas um valor aos 7 dias e 2 resultados para 28 dias. Esta modalidade de amostragem é bem representativa e bastante econômica. Este controle custa de 2% a 3% do valor do concreto.
Sobre o trabalho executado pelos laboratórios pode-se comentar que na maioria das empresas há uma busca contínua de aprimoramento e eliminação de falhas, mas, a possibilidade de entrada de erros no processo é muito grande. Há falhas operacionais que começam na coleta da amostra, passam pela energia de moldagem (golpes por camada), transporte, cura, capeamento e ruptura. Até a velocidade de aplicação de carga na prensa influi no resultado da ruptura do corpo-de-prova. Quanto a energia de moldagem, por exemplo, só para se ter uma ideia, em um corpo de prova de 10 x 20cm, 10 golpes a mais por camada, corresponde a um aumento na resistência de até 50%. Portanto, quem não está interessado em controle de qualidade, mas em enganar uma fiscalização, basta aumentar o número de golpes por camada ou caprichar nas “batidinhas” nas laterais dos moldes. Em um corpo de prova de 15 cm de diâmetro um defeito de 5 cm² no topo corresponde a 2,8% de sua área. Para um corpo de prova de 10 cm de diâmetro, os mesmos 5 cm² de defeito corresponde a 6,4% de sua área. O erro no cálculo da tensão é muito maior.
O mundo do controle tecnológico, como outros, é complexo e carece de análises de aceitação. A melhor ferramenta é a análise estatística. Uma boa análise estatística requer um bom número de dados ou resultados. Nunca jogue com o azar ou a incerteza. Vai que na incerteza dá azar. Fica mais caro, extremamente difícil e constrangedor dar explicações.
Carlos Campos
Fev.2007